Como muitos de vocês sabem, morei 10 anos em Paris. O que talvez não saibam é que sou loucamente apaixonada por essa cidade multifacetada. Mas sem duvida alguma, o que mais me fascina, é esse lado espetacular, grandioso, único, onde se respira arte, cultura, magia em todas as esquinas.
E o que isso tudo tem a ver com as Olimpíadas que começam amanhã? Tem tudo a ver.
O que provavelmente vamos assistir será a mais bela abertura de todos os tempos. Os mais belos jogos de todos os tempos (e aí estou falando de onde serão realizados e não dos jogos em si). Os principais monumentos e as principais artérias parisienses serão utilizados como palco para variadas competições. Em todos os cantos da cidade estão previstas manifestações culturais. O turista e o parisiense, claro, poderão durante 20 dias viver em plena efervescência esportiva e multicultural no coração da cidade.
Paris vai vibrar com suntuosidade, com esplendor, vai mostrar ao mundo porque é uma cidade mágica, cativante, visitada anualmente por mais de 44 milhões de pessoas. Só Paris sabe ser Paris. Só Paris pode oferecer tanta beleza e momentos especiais no meio de competições esportivas.
Sem falar que o próprio símbolo das olimpíadas foi criado por um francês. Em 1913, Pierre de Coubertin mostra pela primeira vez seu desenho. Não existe quase nenhuma diferença com o atual: cinco anéis entrelaçados, cada um representando um continente através de uma cor. O azul seria a Europa, o vermelho a América, o preto a Africa, o amarelo a Asia e o verde a Oceania. O conjunto simbolizando a universalidade do olimpismo. E amanhã, durante a abertura dos jogos ele estará em todos os lugares, incluindo no mais icônico dos monumentos.
Tenho acompanhado pelo instagram os preparativos desses jogos que ocorreram na cidade pela última vez há mais 100 anos. A chegada da tocha olímpica em Marselha no início de maio foi um momento grandioso, inesquecível. Como vários presentes emocionados disseram a jornalistas na ocasião, estavam presenciando um momento histórico, um momento único em uma vida. A tocha entrou no porto em uma caravela chamada Belém que havia navegado por 12 dias desde a Grécia, acompanhada por 1000 barcos e carregada pelo nadador Florent Manaudou.
Desde então e até amanhã, quando chegará em seu destino final pelas próximas semanas, a tocha terá sido transportada por 11.000 atletas, passando pelos destinos mais emblemáticos da França. Uma das cenas que mais me impactaram foi a tocha no alto da flecha da abadia do Monte Saint Michel.
Mas voltando a Paris, a cidade encantada. Amanhã a partir das 19h30, pela primeira vez na história, a abertura dos jogos olímpicos não ocorrerá em um estádio. O espetáculo, cuja duração prevista é de 3h45, será uma parada fluvial com cerca de 100 barcos e 7.000 atletas, que percorrerá 6km no Rio Sena passando por grandes monumentos como a Notre Dame, Louvre e Museu D’Orsay e embaixo de 8 pontes e passarelas. O primeiro barco será da Grécia e o ultimo da França que deverá encerrar o desfile marítimo das delegações às 21h47. Várias atrações cômicas e culturais estão previstas ao longo do percurso. Em compensação, os artistas que farão as grandes apresentações estão sendo mantidos em segredo. Assim como o nome do ultimo atleta a carregar a tocha. O grand finale será na Place de Trocadero para a cerimonia oficial e festiva.
E para que todos possam viver essa magia em segurança, um esquema impressionante foi montado. A partir das 18h30 de amanhã, nenhuma aeronave poderá sobrevoar Paris num raio de 150km. O que significa que, pela primeira vez, todos os aeroportos da cidade estarão fechados para pousos e decolagens. 86 barcos e um sonar farão o controle das águas, 45.000 policiais além do exército manterão a ordem e uma infinidade de barreiras permitira apenas o acesso das pessoas autorizadas.
Além da abertura grandiosa e inusitada, a magia continuará durante um mês com jogos sendo realizados embaixo da Torre Eiffel, no Sena, na Place de la Concorde, no Grand Palais e em vários outros locais emblemáticos como o Palácio de Versalhes. Milhares de pessoas circulando, vibrando, assistindo a espetáculos culturais nas ruas e respirando esse ar vibrante e único de Paris sendo Paris.
Não gosto de multidões, mas adoraria, como no livro a Maravilhosa Viagem de Nils Andersen, da sueca Selma Lagerlof, ter estado no dorso de um pássaro acompanhando a tocha em seu périplo francês, sobrevoando Paris durante todos os preparativos, o Sena durante a cerimonia de abertura e todos os cantinhos onde a magia estiver presente nos próximos dias.
E amanhã quando, segundo a previsão, cerca de 1 bilhão de telespectadores estiverem acompanhando tudo de perto, podem ter certeza que meus olhos, minha alma e meu coração estarão bem presentes.
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